quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

PASTOR, IGREJA E A POLÍTICA

PASTOR, IGREJA E APOLÍTICA.

Temos que entender como pastores que a política é uma espécie de faca de dois gumes. Não podemos nos dar demais e nem nos distanciarmos do processo político eleitoral. Há que se buscar o ponto de equilíbrio. A igreja, enquanto instituição, deve manter-se isenta, permitindo que seus membros exerçam cabalmente sua cidadania. Porém, isso não lhe tira a responsabilidade do pastor de orientá-los quanto ao uso consciente do direito de votar.

Não confundamos isenção com alienação, nem engajamento com comprometimento. Pastores e igrejas comprometidos politicamente podem representar um desvio da sua missão no mundo como representantes de Cristo e de um Reino que não pode ser abalado. Entretanto, sustentando os valores e nos mantendo dentro da ética do reino de Deus, podemos desempenhar um papel relevante na sociedade.

Uma igreja pode engajar-se no processo de conscientização, desempenhando o papel de agente politizador. Mas, jamais deve comprometer-se com qualquer que seja a ideologia, partido ou candidatura, sob pena do prejuízo de seu papel profético.

Diante disto, cada membro da igreja deve ser estimulado a pensar por si mesmo, e fazer suas próprias escolhas. Portanto, a função da igreja é pedagógica, não ideológica.

Sabemos que é muito mais fácil para um pastor (e, se conveniente não sei,) apontar um candidato, do que ensinar o povo a votar com consciência. Não estamos na função pastoral para fazermos o que é fácil e o que dá certo, porém, devemos fazer o que é certo (1 Co 10.23).

Não é prudente aproveitar-se da ocasião para obter benefícios; equipamento novo de som, ou aquela tão sonhada propriedade para a construção do novo templo, blocos, cimento, telhas, etc.

A Palavra de Deus nos adverte: “Os teus príncipes são rebeldes, companheiros de ladrões; cada um deles ama o suborno, e corre atrás de presentes. Não fazem justiça ao órfão, e não chega perante eles a causa das viúvas”. (Isaías 1.23)

Precisamos entender que púlpito não é palanque, e igreja não é curral eleitoral, mas aprisco das ovelhas de Cristo das quais daremos contas a Deus. Portanto, “apascentai o rebanho de Deus, que está entre vós, tendo cuidado dele, não por força, mas voluntariamente, não por torpe ganância, mas de boa vontade, não como dominadores dos que vos foram confiados, mas servindo de exemplo ao rebanho. E, quando se manifestar o sumo Pastor, recebereis a inacessível coroa de glória” (1 Pe 5:2-4).

Como cristãos comprometidos com o presente e futuro da humanidade, precisamos encarnar os valores e princípios do Reino de Deus e expressá-los através de nossa conduta no processo político/eleitoral. Neste processo precisamos levar em conta que o envolvimento de igrejas na política deve-se considerar as seguintes razões:

Primeira: o Estado é laico. Igreja e Estado são instituições distintas e autônomas entre si. É inadmissível que, em nome da religião, os cidadãos livres sofram pressões ideológicas. É uma vergonha que líderes espirituais emprestem sua credibilidade em questão de fé para servir aos interesses efêmeros e dúbios.

Segunda: o voto é uma prerrogativa do cidadão. Quem vota é o cidadão. Como tal pode ser influenciado, mas, o melhor é ser educado, por todos os segmentos organizados da sociedade civil, inclusive a igreja para votar nas pessoas certas.

Terceira: a igreja é um espaço democrático. A igreja é lugar para todos os cidadãos, independentemente de raça, sexo, classe social e, no caso, opção política. A igreja que abraça uma candidatura específica ou faz uma aliança partidária, direta e indiretamente rejeita e marginaliza aqueles dentre seu rebanho que fizeram opções diferentes.

Quarta: a igreja não tem autoridade histórica para se envolver em política. A mistura entre política e religião é responsável pelos maiores males da história da humanidade. Os católicos na Península Ibérica e em toda a Europa Ocidental. Os protestantes na Índia. Os católicos e os protestantes na Irlanda. Os judeus no Oriente Médio. Os islâmicos na Europa e na América. Todos estes cometeram o pior dos crimes: matar em nome de Deus.

Quinta: o papel social da igreja é profético. Quando o governo acerta a igreja aplaude. Quando o governo erra a igreja denuncia. A igreja não está do lado do governo, nem da posição. A igreja está do lado da justiça. Portanto, temos que ser coerentes com as verdades do Reino do qual somos embaixadores e servimos não nos deixando levar por interesses materiais e pessoais.

Bispo Manoel Pedro de Souza